"O rádio é você"

Reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) como o veículo de comunicação de maior público do mundo,  o rádio é celebrado de forma especial nesta segunda-feira (13). Trata-se de um "Dia Mundial" para lembrar como essas ondas sonoras prestam serviço, levam cultura e transformam vidas em todos os cantos, das mais populosas cidades aos menores rincões. A data, oficializada em 2012, lembra o marco de criação da Rádio das Nações Unidas, no ano de 1946. O tema para a edição do Dia Mundial do Rádio de 2017 é “O rádio é você!”, um chamado por maior participação das audiências e comunidades nas políticas e planejamento da radiodifusão.

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"Estamos no ar"

Ainda que a história do rádio comece em 1863, com o surgimento da teoria da propagação de ondas eletromagnéticas, e se estabeleça em 1906, data em que se considera a primeira transmissão radiofônica do mundo, o rádio ainda é considerado dinâmico e atraente, mostrando-se adaptado às mudanças do século 21 e oferecendo novas formas de interagir e participar.

No Brasil, a primeira transmissão radiofônica oficial foi realizada no dia 7 de setembro de 1922, durante a inauguração da Exposição do Centenário da Independência na Esplanada do Castelo. Apesar de um grande acontecimento, a experiência não interessou muita gente. “Creio que a causa principal foram os alto-falantes, instalados na exposição. Ouvindo discursos e músicas, reproduzidos no meio de um barulho infernal. Era uma curiosidade, sem maiores consequências”, definiu Edgar Roquette-Pinto, considerado o pai do rádio. No ano seguinte, o próprio Roquette-Pinto criou a primeira estação de rádio, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. A emissora foi doada ao governo em 1936, tendo sido transformada na Rádio MEC, emissora gerida atualmente pela EBC.

Roquette-Pinto na Rádio Sociedade do RJ
Roquette-Pinto na Rádio Sociedade do RJ, por Rádio Roquette-Pinto

Ouça áudio de Roquette-Pinto, de 1943, sobre o começo da Rádio Sociedade:

 “No começo de 1923, desmontava-se a estação do Corcovado. E a da Praia Vermelha ia seguir o mesmo destino. O Brasil ia ficar sem rádio. Ora, eu vivi angustiado com essa história. Porque já tinha convicção profunda do valor informativo e cultural do sistema desde que ouvira as transmissões do Corcovado alguns meses antes. Resolvi interessar no problema a Academia de Ciências. Era presidente o nosso querido mestre Henrique Morize, eu era secretário, e foi assim que nasceu a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a 20 de abril de 1923.”

O mesmo Roquette-Pinto em 1953, na celebração de 30 anos do rádio: "tenho que agradecer..."

“Eu vim aqui sobretudo, para lembrar, nesses 30 anos de rádio, todos aqueles que tiveram fé. Sim, porque a questão no começo era esta. Era inspirar confiança. E foi por isso que, desde o começo, eu não desejei que o nosso rádio começasse, como queriam alguns amigos, em bases comerciais. Porque começando em bases comerciais, nós tínhamos que dar logo o que fosse melhor, o que fosse perfeito. Porque não sendo perfeito, o homem que paga reclama.      

Rádio Nacional do Rio de Janeiro

Também pela EBC, atua a Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Criada em 1936, por uma empresa privada, foi estatizada em 1940, pelo presidente Getúlio Vargas, que a transformou na rádio oficial do Governo brasileiro. Referência de emissora para diversas gerações, a Nacional foi pioneira em diversas frentes: radionovela, radiojornalismo, show de calouros e programas de humor, além de ter inaugurado a primeira emissora de ondas curtas e ter sido a primeira emissora a ter alcance em praticamente todo o território do Brasil.

Heron Domingues no Repórter Esso
Heron Domingues no Repórter Esso, por Reprodução

A credibilidade da Rádio Nacional do Rio de Janeiro ajudou a emissora a se estabelecer como fonte de informações ao longo das décadas. O radiojornal "Repórter Esso", por exemplo, adquiriu tamanho prestígio que as pessoas só acreditavam nas notícias quando eram divulgadas no programa, que iniciou sua transmissão na Nacional. Foi o caso do anúncio do fim da 2ª Guerra Mundial, em 1945. “Todo mundo só acreditou que a 2ª Guerra Mundial terminou depois que o Repórter Esso deu”, contou o radialista José Messias em programa que homenageou os 80 anos da Rádio Nacional. 

Confira aqui a notícia da morte de Mussolini em 1945

Outro grande momento da Nacional em coberturas históricas foi na madrugada de 1º de abril de 1964, quando o Golpe Militar estava em andamento. A emissora exibiu, ao vivo, uma série de depoimentos sobre o fim da democracia, que se dava desde o dia anterior. Tomaram o microfone da rádio, entre outros, o ministro da Guerra, Jair Dantas Ribeiro, o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), José Serra, o deputado federal por São Paulo Rubens Paiva e Carlos Lacerda, governador do Rio de Janeiro.

Ouça depoimento de José Serra na ocasião:    

Época de Ouro do rádio

Auditório da Rádio Nacional nos anos 50
Auditório da Rádio Nacional nos anos 50, por Acervo/Rádio Nacional do Rio de Janeiro

Anos 40 e 50: abertura da radionovela novela Direito de Nascer e do programa de auditório de César de Alencar:

Líder absoluta de audiência na época de ouro do rádio brasileiro (anos 40 e 50), a Nacional marcou, também, profundamente a história da vida artística brasileira. Grandes nomes da nossa música surgiram no rádio, como Carmem Miranda, Emilinha Borba, Marlene, Elis Regina, Cauby Peixoto, Silvio Caldas, Noel Rosa.    

Ouça trechos de entrevista com Elis Regina e Belchior:  

Ao contrário do que se previa, a evolução das comunicações não trouxe o sepultamento do rádio. Durante seus mais de 100 anos de existência, ele adotou novas formas tecnológicas, invadindo a rede mundial de computadores e se digitalizando. Além disso, sua forma única de comunicação tem a vantagem de chegar a comunidades remotas e pessoas vulneráveis, e de atuar fortemente na comunicação de emergência e no alívio de desastres.

13 de Fevereiro, 2017

Texto e implementação: Bruna Ramos

Edição: Luiz Claudio Ferreira

Coordenação: Ligya Carvalho

Áudios: Arquivo EBC