Por Carolina Gonçalves e Renata Giraldi
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) fez hoje (14) um alerta, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, chamando a atenção das delegações dos mais de 190 países participantes para o risco da contaminação por armas. A organização humanitária diz que o problema gera impactos nas três dimensões que formam a base do desenvolvimento sustentável: econômica, social e ambiental.
O assessor jurídico do Comitê da Cruz Vermelha, Gabriel Valladares, disse que, não apenas o uso de armas, mas também das munições não detonadas, como explosivos de guerra, e armas abandonadas em zonas de conflito matam e ferem a população nos campos e nas cidades. Segundo ele, isso ocorre em praticamente todo mundo, principalmente naqueles países que viveram ou ainda estão em conflito.
“Estamos falando de camponeses que não podem tirar frutos de campos porque estão em campos minados, de resíduos em rios que contaminam a água consumida por uma população”, explicou Valladares, mostrando documentos da Cruz Vermelha com fotografias de africanos mutilados, inclusive de crianças que perderam mãos e pernas devido aos campos minados.
Além dos explosivos e armas em si, com o risco de explodir e ainda a poluição que geram no ambiente, todas as substâncias compostas podem agravar a contaminação e a ameaça à vida das pessoas. Na Bósnia-Herzegovina, o número de mortos ou feridos por minas ou resíduos explosivos aumentou em mais de 70% em 2011, segundo dados do CICV.
Países da África, como Angola, Moçambique e Líbia, e também da América do Sul, como a Colômbia e regiões fronteiriças do Equador com o Peru, estão entre as preocupações da Cruz Vermelha como áreas de alto alerta para a população, para o meio ambiente e para o desenvolvimento econômico de cidades. “No Senegal [África], há dez aldeias nas quais a população convive com resíduos de guerra. Com a neutralidade da Cruz Vermelha, que nos permite ter trânsito em países em conflito, conseguimos dialogar com as pessoas e começar uma avaliação não técnica das possíveis áreas de contaminação”, citou Valladares, informando como a organização atua.
A Cruz Vermelha já vem auxiliando nessa identificação de áreas e implementando atividades preventivas para a população de 27 países. O trabalho é feito com orientação e treinamento, mas depende da mobilização dos países para levantar informações e identificar os riscos.
No Camboja, país asiático onde o número de pessoas sob ameaça ou vítimas de minas chega a 1,5 mil, de acordo com dados de 2006, o organismo internacional continua levando informações preventivas para a população. Segundo Valladares, um número significativo de pessoas já conseguiu microempréstimos. Ele explicou que os recursos dos microempréstimos permitem que parte da população consiga se manter sem precisar conviver com os riscos dos resíduos, que ainda existem nos campos. Na Líbia, segundo a Cruz Vermelha, foram destruídos e até neutralizados mais de 3,5 mil dispositivos bélicos em 2011. Este ano, mais 3 mil dispositivos foram destruídos.
Valladares disse que a Cruz Vermelha não tem expectativa de participar dos debates e decisões da Rio+20, mas aguarda que o alerta deixado hoje inspire novas promessas, como o que ocorreu na Rio92, há 20 anos, quando os países se comprometeram com os direitos humanitários apontando as guerras e conflitos como ameaças ao desenvolvimento sustentável.
Edição: Lana Cristina