EUA veta debate na Cúpula das Américas

Cartagena - Colômbia

Por Monike Mar, Cúpula dos Povos

Governo federal do México/CC

Cerimônia de abertura da Cúpula das Américas, em Cartagena, Colômbia

A sexta edição da Cúpula das Américas, realizada em Cartagena das Índias (Colômbia) até o último domingo (15/04), terminou sem resultados relevantes para a América Latina. A pauta de discussões, que incluía questões importantes para o avanço da integração entre os países do continente, foi ignorada por Barack Obama e por outros dirigentes dos Estados Unidos e Canadá, países realizadores da conferência.

A avaliação é da socióloga Graciela Rodrigues, representante da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB) que esteve em Cartagena neste último fim de semana. Ela participa da conferência desde a primeira edição (1994), na promoção do encontro crítico que acontece em paralelo, a Cúpula dos Povos das Américas.

“A Cúpula das Américas marca o fracasso das políticas dos EUA em avançar com acordos substanciais para a América Latina”, destaca Graciela. “Mais uma vez, foi apenas um exercício de poder de veto dos EUA, que tornou a conferência muito esvaziada de temas importantes, além de dar visibilidade para Obama em ano de eleição”.

O comércio ilegal de drogas, assunto que permeia diversos setores da sociedade  – da saúde à segurança  – foi um dos temas ignorados nos debates. “Obama não quis falar sobre isso, porque os EUA têm interesse em se aproveitar da política antidrogas que implementam nos países latino-americanos”, ressalta a socióloga.

Graciela explica que a política desenvolvida hoje pelo país norte-americano é baseada na opressão e na militarização, o que não é suficiente para resolver o grave problema do fluxo de circulação de drogas na América Latina hoje. “Há a intenção de fortalecer o controle militar, formar policiais sobre os países do sul. Por isso, acabar com as drogas não é e nunca será estratégico para eles”.

Contraponto

Cumbre de los Pueblos 2012

Manifestação durante a Cúpula dos Povos das Américas

Para discutir questões socioeconômicas que precisam ser resolvidas no continente, entidades sociais que formam a Aliança Social Continental (ASC) e a Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip) organizaram a Cúpula dos Povos das Américas. O objetivo é semelhante ao da Cúpula dos Povos na Rio+20: criar e fortalecer um contraponto às discussões da conferência oficial.

A quinta edição da Cúpula dos Povos das Américas produziu um documento baseado nas discussões sobre temas e propostas da sociedade civil: militarização e combate às drogas; livre comércio; crise global; mudanças climáticas; e Rio+20. Além disso, realizou uma marcha que contou com a adesão de mais de 10 mil pessoas da sociedade civil.

Em articulação com o evento que acontecerá no Brasil, em junho, e com a manifestação que ocorrerá em protesto ao encontro do G-20 neste ano no México, a Cúpula dos Povos das Américas também teve como objetivo levar adiante as discussões levantadas neste evento.

“Propomos uma governança global. Para isso, precisamos formar uma agenda de lutas que seja contínua”, conta Graciela, que vê na integração da América Latina um potencial fortalecimento de independência em relação às importações de produtos norte-americanos. “A Cúpula dos Povos das Américas tem construído um histórico importante na luta por essa integração”.

A ativista relembra o episódio ocorrido em 2005, quando, na conferência realizada em Mar del Plata (Argentina) integrantes do evento paralelo conseguiram derrotar a proposta dos EUA para a criação do Acordo de Livre Comércio das Américas (Alca). A Alca havia sido o motivo principal para a criação da Cúpula das Américas oficial, em 1994. “Essa foi uma grande vitória que marcou historicamente nosso processo de luta a favor da independência dos povos”.

G-20

Entre os dias 18 e 20 de junho, no México, acontece a reunião dos países que integram o Grupo dos 20 (G-20). O encontro também está na pauta de críticas de movimentos sociais de diversos países da América Latina. Manifestações contra as decisões verticalizadas do G-20 serão realizadas por todo o mundo, em articulação com as redes que integram a Cúpula dos Povos na Rio+20.

Segundo Graciela, o Brasil precisa aproveitar mais a posição no G-20 para intervir pelos demais países da América Latina. “Os países vêem positivamente o Brasil na liderança. E entendemos  que o problema é o Brasil estar tensionado pela participação internacional, o que o faz tentar seguir por diversos lados e não se comprometer apenas com um”.

Fonte: Cúpula dos Povos

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