Professor refloresta sozinho parte da Mata Atlântica em morro do Rio

Rio de Janeiro

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil

Vladimir Platonow/ABr

O professor Rodolfo de Oliveira Souza

Na contramão da derrubada das matas nativas no entorno das grandes cidades brasileiras, um professor de geografia iniciou uma luta solitária para recompor pelo menos uma parte da Mata Atlântica que já emoldurou o Rio de Janeiro. Rodolfo de Oliveira Souza plantou aproximadamente cem árvores nos últimos seis anos, na Serra do Engenho Novo, no bairro de Vila Isabel, zona norte da capital fluminense.

As mudas ele compra do próprio bolso ou ganha de amigos, todas nativas do Brasil. Algumas estão com menos de 50 centímetros e outras já têm 4 metros de altura. Ele luta diariamente contra a seca, as formigas e o capim-colonião, uma espécie invasora que cresce e sufoca as árvores pequenas.

Todos os dias, antes de seguir para o colégio onde trabalha, Rodolfo sobe por uma trilha próxima à sua casa, levando uma sacola com várias garrafas com água, cerca de 20 litros. Pelo caminho, vai molhando as mudas. Aproveita para arrancar o capim em volta delas e, às vezes, borrifa um inseticida em pó, para combater formigas e gafanhotos.

“Eu gosto de fazer isso. Desde pequeno eu planto árvores. Onde eu ia, semeava. No início do projeto foi difícil, porque não sabia lidar com as formigas e plantava em baixo de outras árvores, o que não trazia bons resultados. Depois aprendi que precisava plantar direto sob o sol, aí as mudas se desenvolveram”, explicou.

Enquanto caminha, Rodolfo mostra com orgulho as árvores que plantou anos atrás e que hoje vicejam fortes na encosta. Sabe cada espécie de cor: pau-brasil, jacarandá, ipê, merindiba, pau-ferro, sibipiruna, sapucaia, abiu, jatobá, ingá, paineira, oiti, pau d´álho e jequitibá.

Embora consiga dar conta do trabalho, o professor de geografia diz que o único apoio que gostaria é de alguns funcionários da prefeitura para cortar o capim colonião, que seca na estiagem e acaba pegando fogo, colocando em risco às mudas plantadas. Outro problema, é a proliferação de duas espécies de árvores asiáticas, Albizia procera e Albizia lebbeck, usadas largamente pela prefeitura no reflorestamento, mas que atualmente tomam conta dos morros, em um tipo de monocultura que acaba abafando as espécimes da flora nativa.

O professor reconhece que a prefeitura do Rio tem feito um esforço nos últimos anos em reflorestamento, mas, mesmo assim, considera que ainda há muito a ser feito. “O Poder Público tem que fazer mais. Tem que ser prioridade recuperar a vegetação desses morros todos, principalmente na zona norte e no subúrbio, onde é mais seco e tem menos áreas verdes”, alertou.

Rodolfo destaca também para a necessidade de combater as invasões das matas restantes, seja pela expansão das favelas ou pela especulação imobiliária. “Todas essas áreas deveriam ser de proteção ambiental, para ter algum amparo jurídico. O importante é evitar as invasões, porque depois fica muito difícil tirar os moradores. Tem que ter uma política mais firme tanto para a favela como para a classe média alta, que também invade.”

O professor recorda que a Floresta da Tijuca, que hoje tem 3.958 hectares, foi quase toda replantada, por ordem do imperador dom Pedro II, para combater a falta d´água que atingia o Rio, justamente porque haviam cortado as árvores para plantar café, o que provocou a seca das nascentes. O trabalho durou 13 anos e foi conduzido pelo major Gomes Archer, com a ajuda de escravos. “Foi o primeiro reflorestamento ecológico que se tem notícia. E o que temos hoje de área verde é graças a eles”, ressaltou.

O projeto de reflorestamento desenvolvido pelo professor pode ser conhecido no endereço www.serradoengenhonovo.com.br

Fonte: Agência Brasil

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