por Camila Maciel
A maior cidade do país recicla pouco mais de 1% de todo o lixo produzido diariamente. Segundo dados da prefeitura de São Paulo, apenas 214 toneladas das 18,3 mil toneladas de resíduos sólidos coletados diariamente nas ruas da capital paulista são recicladas, o que representa 1,18% do total. A quantidade de lixo levada para os aterros sanitários só não é maior graças ao trabalho das cooperativas de reciclagem não conveniadas à prefeitura. Segundo o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), essas cooperativas reciclam quatro vezes mais do que é contabilizado, tendo em vista que menos de 10% dos catadores do município atuam nos centros de triagem da prefeitura.
“Hoje, somos cerca de 15 mil catadores na cidade e apenas 1,2 mil atuam nesses centros. Dos 56 núcleos de catadores, apenas 20 conseguiram o convênio”, explica Eduardo Oliveira, coordenador do MNCR de São Paulo. Segundo ele, mais de 30 cooperativas fazem o trabalho de coleta e separação por conta própria e cada uma delas recicla, em média, 30 toneladas por dia. Ele calcula que o volume reciclado pelas cooperativas independentes chegue a cerca de 900 toneladas diárias.
As cooperativas que contam com o convênio têm à disposição caminhões com motoristas, combustível e manutenção, equipamentos de trabalho, além do galpão e consumos de energia e água, segundo informações da prefeitura. “Se esse apoio fosse ampliado, o percentual de reciclagem poderia chegar a 70%”, avalia Oliveira. Segundo o movimento, seria necessário um centro de triagem em cada um dos 96 distritos da capital.
A opinião é compartilhada pelo consultor das Nações Unidas para o Meio Ambiente no Brasil, Sabetai Calderoni. “Seriam necessários pontos estratégicos, pelo menos, a cada 200 mil habitantes”, avalia. Ele acredita que as centrais são a forma mais eficaz para ampliar o percentual de reciclagem. “Não adianta querer culpar a população porque não separa o lixo, dizer que é um problema de educação ambiental de longo prazo”, critica. Segundo o consultor, os municípios poderiam reciclar quase 100% dos resíduos produzidos, a exemplo da Holanda (97%) e da Suécia (99%).
Para Calderoni, o investimento privado é o melhor meio de viabilizar os centros. “Assim como a prefeitura faz a licitação para o aterro, que terceirize para a implantação das centrais de reciclagem. Vai gastar muito menos do que gasta com aterro.” De acordo com Calderoni, o município gasta de R$ 1,5 bilhão por ano para a destinação correta do lixo. Somente com transporte, o custo chega a dois terços desse total.
O consultor explica que, com a instalação dos pontos estratégicos de coleta, a distância percorrida pelos caminhões reduziria em até 90%, considerando que os aterros, normalmente, estão localizados em áreas mais periféricas das cidades. “Com isso, você reduziria o número de acidentes, a poluição envolvida e os custos diminuiriam. Além disso, você não deixaria materiais em aterros. O que entra em uma central de manhã, sai do final do dia. No aterro, você só acumula”, destaca.
A Prefeitura de São Paulo informou, por meio de nota da assessoria de imprensa da Secretaria de Serviços, que o Programa Socioambiental de Coleta Seletiva está sendo expandido gradativamente, mas que a ampliação depende, também, da capacidade de absorção dos resíduos recicláveis pelo mercado reciclador. Informou, ainda, que quatro centrais de triagem estão em implantação no município e que outras sete áreas estão em processo de desapropriação.
Edição: Lílian Beraldo