Calendários nacionais de vacinação
Com uma história que vai da Revolta da Vacina ao Zé Gotinha, o Brasil se insere nesse cenário atualmente como o país que oferece o maior leque de imunizações a sua população. O Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde, distribui anualmente mais de 300 milhões de doses de vacinas, soros e imunoglobulinas. Para ter esse alcance, é necessário um investimento anual de mais de R$ 4 bilhões.
A história do PNI começa na década de 1970, quando foi criada a sua estrutura e elaborados os primeiros calendários nacionais de vacinação para combater um quadro epidemiológico que incluía 10 mil casos de poliomielite e 100 mil casos de sarampo por ano. Em 1977, foi lançado o primeiro calendário, com apenas quatro vacinas para prevenir sete doenças em crianças de até um ano de idade: a Bacilo Calmette Guerin (BCG); a Vacina Oral poliomielite (VOP); a vacina Difteria, Tétano e Coqueluche (DTP), e a vacina contra o sarampo. Esse calendário cresceu nos últimos 42 anos, e o PNI recomenda atualmente 14 vacinas para crianças, além de prever calendários específicos para adultos, gestantes, idosos e população indígena.
Calendário Nacional da Vacinação Criança
Vacina | Esquema vacinal | Idade |
---|---|---|
BCG | 1 dose | ao nascer |
Hepatite B | 1 dose | ao nascer |
Penta (DTP/Hib/Hep B) | 3 doses | 2, 4, 6 meses |
Vacina Pneumocócica 10 valente | 2 doses e reforço | 2, 4, 12 meses |
VIP (Vacina Inativada Poliomelite) | 3 doses | 2, 4, 6 meses |
VRH (Vacina Rotavírus Humano) | 2 doses | 2, 4 meses |
Vacina Meningocócica Conjugada tipo C | 2 doses 1 reforço | 3, 5, 12 meses |
VOP (Vacina Oral contra Poliomielite) | 1 reforço 1 reforço | 15 meses, 4 anos |
Vacina febre amarela | 1 dose | 9 meses |
Tríplice viral (sarampo, rubéola, caxumba) | 1 dose | 12 meses |
Hepatite A | 1 dose | 15 meses |
Tetraviral (sarampo, rubéola, caxumba, varicela) | 1 dose | 15 meses |
DPT (tríplice bacteriana) | 1 reforço 1 reforço | 15 meses, 4 anos |
HPV quadrivalente (Papilomavírus Humano) | 2 doses | 9 a 4 anos |
Calendário Nacional da Vacinação Adolescente e Adulto
Vacina | Esquema vacinal | Idade |
---|---|---|
HPV |
2 doses (com intervalo de seis meses entre as duas) |
9 a 14 anos (mulheres)
|
dT (dupla tipo adulto) B | reforço | a cada 10 anos |
Vacina febre amarela | Dose única | Área com recomendação de vacinação |
Tríplice viral | 2 doses 1 dose |
até 29 anos 20 a 49 anos |
Hepatite B | 3 doses | Universal |
dTpa | 1 dose | Gestante a partir da 20ª semana de gestação ou puepério e profissionais de saúde |
Vacina Meningocócica Conjugada tipo C | 1 reforço ou dose única | 11 a 14 anos |
Calendário Nacional da Vacinação Idoso
Vacina | Esquema vacinal | Observações |
---|---|---|
dT (dupla tipo adulta) | Reforço | a cada 10 anos |
Vacina febre amarela (1) | Dose única | Área com recomendação de vacinação. |
Hepatite B | 3 doses | Universal |
Pneumococo 23 | 1 dose | Acamados e/ou vivem em instituições fechadas |
(1) Pessoas a partir de 60 anos deverão ser vacinadas somente se residirem ou forem se deslocar para áreas com transmissão ativa de febre amarela (epizootias, casos humanos vetor infectado)
Mais completo, o PNI também viu crescer seu número de usuários: a população brasileira saltou de 112 milhões quando o programa foi criado, em 1975, para 210 milhões em 2019. Nessas décadas, o Brasil erradicou a poliomielite, a difteria e a rubéola, e reduziu a incidência de doenças graves como a meningite tuberculosa, o tétano neonatal e a febre amarela.
Todas as vacinas previstas nos calendários de vacinação do PNI podem ser obtidas gratuitamente por seu público-alvo em um dos 36 mil postos de vacinação espalhados no território nacional. Vacinações para grupos com condições de saúde específicas podem ser obtidas nos centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIEs), presentes nas 27 unidades da Federação.
Coordenadora-geral do programa por oito anos, Carla Domingues viu a erradicação e o retorno do sarampo ao Brasil. Ao participar em setembro, em Fortaleza, da Jornada Nacional de Imunizações, que discutiu formas de valorizar as vacinas, ela destacou que o PNI mudou o perfil epidemiológico do Brasil e também o foco das políticas de saúde pública, permitindo mais espaço para o tratamento das doenças crônicas.
“Se a gente discute como atender a doenças crônico-degenerativas no [Sistema Único de Saúde] SUS, é porque se deu espaço para atender a essas doenças, porque deixamos de atender às infectocontagiosas e imunopreviníveis. Não podemos perder de vista isso”, afirma ela, que aponta um paradoxo. “À medida que a gente não vê mais as doenças, muita gente não acredita mais na importância da vacinação, justamente pelo sucesso do programa.”
Uma das preocupações de especialistas na área é como conseguir a adesão de adultos e adolescentes aos calendários de vacinação. Coordenadora do Centro Especial de Vacinação Dr. Álvaro Aguiar, no centro do Rio de Janeiro, Adriana Desterro conta que é comum receber adultos na unidade que não sabem que vacinas já tomaram e que desconhecem o paradeiro de seus comprovantes de vacinação. Quando não é possível recuperar o documento, repetir doses que porventura já tenham sido tomadas acaba sendo a solução para conseguir uma carteira de vacinação atualizada.
“As maiores dúvidas que recebemos aqui são sobre atualização do calendário de vacinas. Geralmente, esses usuários perderam suas carteiras e não têm noção de seu histórico vacinal”, conta ela, que considera que a procura para atualizar as carteiras de vacinação é baixa por parte de adultos e adolescentes.
É o caso da advogada Cristiane Santos, de 48 anos, que perdeu sua carteira de vacinação e foi à unidade de saúde em que Adriana trabalha para descobrir se precisava se vacinar para viajar. Ao relatar a situação, ela tomou três vacinas, recebeu uma nova carteira de vacinação do adulto e já saiu do posto com o documento atualizado, incluindo as datas das futuras doses. Ela conta que nunca perdeu a carteira de vacinação da filha, que já é adulta.
“A carteira dela está lá [em casa], toda atualizada e com todas as vacinas em dia.”
O relato de Cristiane não é uma exceção. Vice-presidente da Sociedade Nacional de Imunizações, Isabela Ballalai aponta que boa parte da população ainda tem uma percepção de que a imunização é um cuidado que se restringe à saúde da criança:
"Há uma questão cultural de que vacina é coisa de criança. A gente aprendeu que precisa levar as crianças ao posto e não sabe que esse é só o primeiro desafio. A população desconhece que existe um calendário de vacinação rotineiro para o adulto."
Oficial de náutica, Flávio Martins, de 38 anos, mantém sempre em dia sua vacinação, com especial atenção à prevenção da difteria e do tétano (DT), que é recomendada para adultos a cada dez anos.
“Trabalho embarcado, e as empresas solicitam, pelo cuidado devido aos metais que estão a bordo”, disse ele, que aproveitou e foi ao posto de vacinação com o pai, o economista Flávio Martins, de 68 anos. Os dois deixaram a unidade de saúde com a carteira de vacinação do adulto atualizada. “A população vacinada está preparada para o trabalho, gera menos custos para o governo e, além disso, é uma população sadia”, disse o oficial.