Para além do prato, veganismo movimenta a economia em diversas áreas
A Sociedade Brasileira de Vegetarianismo (SBV) criou um selo para certificar os produtos veganos vendidos nos supermercados do país. Hoje já existem mais de 230 produtos certificados de 27 empresas diferentes à venda no país.
O veganismo se baseia na Declaração Universal dos Direitos dos Animais, feita pela Unesco nos anos 70, condenando o abuso e exploração de quaisquer produtos que tenham origem animal. Eles não consomem roupas e acessórios de couro, pele, lã, seda, por exemplo. Além dos veganos não consumirem alimentos de origem animal, eles não usam nada proveniente ou testado nos bichos.
Os produtos veganos têm ganhado força nos mais diversos setores, como cosmético, alimentício, produtos de limpeza, produtos para pets e até matérias-primas, como é o caso de uma marca brasileira que usa a mandioca para substituir o plástico, totalmente eco-friendly: a CBPak, situada no estado de São Paulo. A empresa aproveita amido de mandioca para criar copos e bandejas de plástico.
Para ser ética com os animais e com o meio ambiente, uma marca vegana ou eco-friendly precisa verificar se toda a cadeia produtiva está de acordo com seus princípios. Dentro desta categoria chamada de moda ética, os tecidos de fibras naturais, como o de bambu, acabam ganhando espaço no mercado. Outra estratégia usada pelas marcas veganas é a pegada artesanal, sem fabricação em grande escala.
Vestuário
Bárbara Mattivy, uma das sócias-fundadoras da marca de sapatos veganos Insecta Shoes, explica que a marca reutiliza roupas garimpadas em brechós ou tecidos ecológicos à base de garrafa pet reciclada. No último ano, a marca reaproveitou 627 peças de roupas, 79 metros de tecidos antigos e 2892 garrafas pet. Além disso, a empresa recicla o próprio excedente de produção.
Ela conta que a Insecta Shoes já nasceu com o DNA sustentável. Os primeiros sapatos foram produzidos a partir da parceria com um brechó chamado Urban Vintagers e com uma marca de sapatos, a Mag-P Shoes, usando tecido reciclado e excedentes da indústria de calçados. “Decidimos criar uma marca que representasse esse novo conceito. À medida que fomos estudando e entendendo melhor a cadeia produtiva da moda, descobrimos o impacto imenso que ela causa do meio ambiente, sendo a segunda indústria mais poluente do mundo. A partir desse momento, não só intensificamos nosso trabalho de sustentabilidade, como entendemos a importância de disseminar essa informação para que, cada vez mais, outras marcas trabalhem em favor do meio ambiente.”
Sobre as dificuldades de ser vegano, ela acredita que cada vez existem menos desafios. “É um mercado em constante crescimento, e hoje se consegue encontrar opções veganas em muitos lugares, inclusive já existem restaurantes superespecializados, por exemplo, sorveterias e 'açougues'. Eu, particularmente, não acho difícil, desde que você queira e esteja disposto a fazer o esforço necessário e pesquisar bastante”, conta a sócia da Insecta.
"Açougue"
Outra iniciativa que tem chamado a atenção é a do Açougue Vegano, no Rio de Janeiro, idealizado pelos chefs Celso Fortes e Michele Fernandez. Ele foi o primeiro açougue deste tipo a ser inaugurado no Brasil. O chef Celso Fortes explica que o projeto com a promessa de oferecer iguarias tão saborosas quanto os tradicionais itens da dieta carnívora foi montado em cerca de 45 dias. “O primeiro dia de trabalho foi exaustivo, afinal vendemos todo o estoque que havíamos preparado para um mês. Em apenas dez horas conseguimos liquidar 1.100 coxinhas de jaca, centenas de hambúrgueres de shimeji e shitake, espetinhos de soja, entre outras iguarias” relembra Fortes.
Quanto à segmentação do negócio, Fortes afirma que o público vegano tem um engajamento muito diferenciado em relação ao assunto. “Não é apenas uma escolha culinária, se trata de um estilo de vida.”
Aplicativos ajudam vegetarianos
Se você é vegetariano ou vegano ou se interessou em experimentar esses estilos de vida, há aplicativos que podem ajudar com receitas ou indicações de locais para comer fora de casa:
Guia Restaurantes Vegetarianos
O aplicativo mostra mais de 230 opções de restaurantes em todo país e está disponível para iOS e Android.
HappyCow
Um dos mais conhecidos entre os adeptos do vegetarianismo é o app HappyCow. Além de oferecer opções de restaurantes veganos e vegetarianos, indica lojas que vendem produtos especializados. O app é em inglês, mas tem locais de todo o mundo cadastrados.
Be veg
Este é mais um app que indica opções de lanchonetes e restaurantes vegetarianos e veganos em diversos locais do país, com versões para iOS e Android.
Eat Vegan
O aplicativo traz deliciosas receitas separadas por pratos: saladas, prato principal, sobremesa, café da manhã. Algumas receitas são pagas, mas há opções gratuitas. O idioma do app é inglês, mas dá para copiar a receita e traduzir no Google Tradutor.
21 Vegan Kickstart
Este é para quem está querendo se tornar vegano ou vegetariano e não sabe por onde começar. Ele propõe refeições veganas completas (café da manhã, almoço, lanche e jantar) para 21 dias.
I’m hungry
O app reúne receitas de comidas vegetarianas, entre mediterrâneas, indianas, americanas, chinesas e japonesas. Ele é ótimo para quem está começando na cozinha vegetariana e não sabe como variar o cardápio.
Cruelty Free
Este aplicativo é voltado para o público vegano, em especial. O app mostra todas as empresas e produtos que fazem testes em animais antes de ficarem prontos.
Espinapp
No Espinapp, você encontra mais de 100 receitas com ingredientes, passo-a-passo e fotos.
Mapa Vista-se
Este não é um aplicativo, mas um site interativo, que permite aos usuários cadastrem estabelecimentos. http://www.vista-se.com.br/mapa/
Conheça histórias de pessoas que adotam esses tipos de alimentação
Victor Costa, ativista vegano
Victor Costa, ativista vegano, parou de comer carne depois dos 18 anos. Ele revela que se sentia incomodado com o sofrimento dos animais. “Lembro de um dia específico em que vi um porco sendo morto e chorei muito”, conta.
“Achei que ia me sentir restrito por causa das opções de comida e lazer. Mas foi libertador. O fato de eu consumir esses produtos sabendo que era errado me fazia um mal que eu não percebia”, comenta.
Em 2016, Victor decidiu que, além de parar de consumir produtos de origem animal, ajudaria outras pessoas que quisessem parar também e criou um canal no Youtube. “Se uma mora em uma cidade do interior e quer ser vegana, mas naquela cidade não vende nenhuma pasta de dente que não faz testes em animais, ela não vai ser menos vegana se comprar essa pasta de dente. É tudo na medida do possível e do praticável. O veganismo é baseado em razão e compaixão, não existem dogmas”, ressalta.
Patrícia Serejo, psicóloga
Patrícia Serejo começou um flerte com o vegetarianismo aos 15 anos. Segundo ela, inicialmente foi “um ato de rebeldia”.
“Foi uma trajetória de muitos anos. Minha decisão é de saúde e também de preocupação ambiental. Mas, a questão ética foi o que me mobilizou para deixar as últimas coisas”, explica.
Patrícia ainda consome leite e derivados. Mãe de três crianças, ela conta que em sua casa cada um é de um jeito. “Eu sou vegetariana, meu marido não. Meu filho de cinco anos também não é a minha filha de dois anos come pouca carne, porque a nossa opção no dia a dia é não oferecer. O meu caçulinha de cinco meses é vegetariano porque ele está em aleitamento materno exclusivo”, diz.
Para ela, a principal dificuldade de ser vegetariana é o aspecto social, já que o lazer está atrelado à oferta de comida, geralmente, baseada no consumo de carne e derivados. Outro desafio, com seu primeiro filho, foi quando o berçário onde iria matriculá-lo afirmou não aceitar a dieta vegetariana para a criança. “Partia-se do pressuposto de que carne é essencial para a alimentação, para o desenvolvimento. Era o pressuposto do estabelecimento e aí que cedi.”
Hoje, para fugir das críticas, Patrícia diz que não opina na alimentação dos outros e estabelece limites. “Nós ainda vivemos em uma cultura predominantemente carnívora, onívora, e chama muita atenção você ser vegetariana. Eu passei por três gestações e todo mundo achava que eu ia passar mal ou prejudicar os meus filhos em função do vegetarianismo”, revela.
Luísa Ferrari, Youtuber
A Youtuber Luísa Ferrari é vegetariana há cerca de quatro anos. Ela conta que sempre gostou muito de carne, mas de alguma forma se sentia mal comendo. Algum tempo depois, decidiu se tornar vegana e se engajar mais.
“Eu percebi que o ovo-lacto-vegetarianismo talvez não fosse mais o suficiente. Foi uma questão de ética com os animais, porque eu comecei a ver alguns vídeos no Youtube.”
Luísa começou a pesquisar sobre como a dieta ovo-lacto-vegetariana afeta os animais com a produção e retirada dos derivados. Ela acrescenta que o mais difícil em se adotar esse tipo de dieta restritiva é lidar com as pessoas. Em seu canal no Youtube, Luísa algumas vezes fala sobre o veganismo, sobre como é ser vegana. Um de seus vídeos mais acessados é o que mostra o que ela come em um dia.
1º de Outubro, 2017
26 de Setembro, 2017