EBC resgata áudio de discurso histórico de Rubens Paiva na madrugada do golpe militar; ouça
No momento em que o Brasil comemora o Oscar recebido por "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles Jr, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) resgata dos acervos da Rádio Nacional um momento histórico do país, quando o então deputado Rubens Paiva discursou contra o golpe militar que se desenrolava naquele 1º de abril de 1964.
No ar para todo o Brasil, ele convocou estudantes e trabalhadores a se mobilizarem contra o movimento golpista e disse que ao seu lado, e em defesa da legalidade do presidente João Goulart, estava "a maioria do povo brasileiro desejando as reformas e desejando que a riqueza se distribua". "Estejam atentos às palavras de ordem que emanarem aqui da Rádio Nacional e de todas as outras rádios que estejam integradas nesta cadeia da legalidade", disse durante o discurso.
"É muito importante o trabalho da EBC, como empresa pública de comunicação, na preservação da memória cívica nacional", registrou o diretor-presidente Jean Lima.
Rubens Paiva foi preso, torturado e morto sob custódia militar em janeiro de 1971. Seu assassinato se tornou um símbolo da luta pela verdade e justiça no Brasil, que teve muitos brasileiros perseguidos durante o regime. Sua história é contada no filme "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles, sob a ótica de sua viúva, Eunice Paiva. O roteiro, adaptado do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado, reacende o debate sobre os desaparecimentos forçados e as violação dos direitos humanos durante a ditadura militar. O áudio de Rubens Paiva é um lembrete da resistência de muitos que se opuseram ao golpe e pagaram um preço alto na luta pela democracia.
O áudio foi descoberto nos arquivos da EBC em 2014, quando a equipe de jornalismo da empresa preparava conteúdos especiais sobre o aniversário de 50 anos do Golpe Militar. Na ocasião, a descoberta emocionou a família, que nunca tinha ouvido a gravação. A filha, Vera Paiva, disse à época que não tinha registros da voz do pai.
Rede da legalidade
A Rádio Nacional se transformou em um espaço de resistência democrática a partir da madrugada de 31 de março, quando começaram a chegar as primeiras notícias de que tropas militares marchavam em direção ao Rio de Janeiro para consolidar um golpe contra o presidente João Goulart. Ao longo dos dias 31 de março e 1º de abril de 1964, os microfones da emissora no Rio de Janeiro foram mantidos abertos para manifestações de diversos políticos e setores da sociedade que se opunham ao golpe.