Os empregados da Empresa Brasil de Comunicação-EBC estão em greve desde o dia 10 de novembro, e nesta quarta-feira, 18, em reunião extraordinária do Conselho Curador da empresa, a jornalista Akemi Nitahara, que nesta sessão também foi oficialmente empossada como conselheira representante dos empregados, questionou se os veículos da EBC noticiaram a paralisação. Para a Ouvidoria, a manifestação da conselheira soou como uma espécie de interpelação, que acredito ter-se refletido também em todos os presentes naquela reunião, incluindo-se os grevistas que formavam um corpo de manifestantes ao fundo do pequeno Centro de Convenções.
Interpelação não pelo assunto sempre delicado que as greves representam para empresas, sejam de que ramo de atividades forem, mas pelo fato de sermos uma empresa que ainda está buscando consolidar seu papel e personalidade em um contexto de comunicação midiático no qual entrou muito tarde – em 93 anos de radiodifusão no Brasil, a EBC (leia-se comunicação pública) surgiu há apenas oito anos. Como aplicar a nós mesmos os critérios já consagrados que aplicamos aos outros?
Noticiar greves, para a comunicação pública, é oportunidade para mostrar à sociedade as condições de trabalho de profissionais que desenvolvem atividades essenciais para a vida dos cidadãos, como a de médicos e professores, além de informar sobre os serviços que serão afetados pela paralisação, como forma de contribuir para a organização do cotidiano das pessoas. E quanto à EBC? O sentido amplo de uma pergunta tão simples é o que chamo de interpelação. A greve na comunicação pública é um fato que nos interpela como sujeitos - sujeitos da comunicação, jornalistas e profissionais da radiodifusão que somos. E aí se põe a questão: devemos noticiar a greve? E como noticiarmos a nós mesmos em greve?
A resposta vem pelo seu oposto: não informar o cidadão sobre a greve na empresa pública de comunicação seria, por princípio, uma omissão. E estaríamos considerando, indiretamente, que o serviço prestado pela comunicação pública é irrelevante e que sua interrupção não causa transtorno à sociedade – afinal, noticiar greves tem como um dos objetivos principais prevenir os cidadãos sobre possíveis transtornos provocados pela interrupção dos serviços. O desconforto da decisão de cobrir ou não a própria greve e de como fazer isso ficou visível na forma tímida como as rádios, a Agência Brasil e o Portal da EBC trataram a questão. A TV Brasil sequer tocou no assunto.
Mas, sim, precisamos falar com o público sobre a greve na EBC, porque sabemos que prestamos um serviço muito relevante. Precisamos contribuir para que as pessoas compreendam que o direito à informação e comunicação – representada, aqui, pelos veículos públicos da EBC – é mais do que simples entretenimento que se avalia com o controle remoto. Precisamos informar que a comunicação pública não se resume à TV Brasil, e que a emissora pública não tem culpa por ser avaliada como as demais, que apesar dos altos índices de audiência muitas vezes prestam um desserviço à população. Assim como também precisamos reconverter nossos olhares jornalísticos para a cobertura de greves, que em geral são vistas apenas pelos transtornos que causam à vida das pessoas; para que a sociedade não permaneça omissa em situações como a paralisação de professores, por exemplo, que chega a durar meses.
Acima de tudo, nesse momento em que somos interpelados no contexto de uma greve, precisamos refletir sobre as dimensões que nos caracterizam como trabalhadores, trabalhadoras, jornalistas e profissionais da comunicação pública, sujeitos de nossa própria história.
Essa pode ser uma grande oportunidade para que todos – empregados, empresa, movimentos sindicais e até mesmo o público – reúnam-se em torno de uma simbólica mesa comum, dando-se a oportunidade de repensar práticas, realinhar valores, inaugurando novas possibilidades distanciadas das velhas crenças e de paradigmas ultrapassados.
Sim, a Ouvidoria da EBC considera que devemos falar com os telespectadores, ouvintes, leitores e internautas sobre a relevância da comunicação pública e o que isso significa para o fortalecimento dos demais direitos de toda a sociedade.
O PÚBLICO NA OUVIDORIA
A Ouvidoria sabe que as manifestações que nos chegam não refletem a audiência real dos veículos da EBC – infelizmente a comunicação com as ouvidorias ainda não se tornou um hábito dos brasileiros. Mesmo assim, temos um público que sabe que contribui para a qualidade da comunicação pública com suas críticas, elogios, comentários. Eis aqui alguns dos que se manifestaram sobre a interrupção dos serviços com a greve na EBC.
CADÊ O PONTO DE ENCONTRO?
Raquel Nery, de Tocantins/TO, ouvinte da Rádio Nacional da Amazônia, dá exemplo, em seu recado, de um dos papéis relevantes das rádios públicas: “Olá. Eu gostaria de saber o porquê do Ponto de Encontro não estar funcionando normalmente com a leitura de e-mails. Eu estou à procura de saber o motivo. Porque a única comunicação que tenho com minha mãe e meu pai e pela rádio. Se possível me respondam, porque só estão lendo cartas e atendendo ligação e a Central do Ouvinte. Desde já agradeço. Obrigada!”
SEM CENSURA
Marizette Santos Leal, de Duque de Caxias/RJ, reclama com a ênfase de quem sabe a importância da comunicação pública e do seu compromisso com a sociedade: "Vocês estão de brincadeira com os telespectadores? O Sem Censura está reprisando de novo! Que saco isso... Depois de mudarem o horário, agora ficam reprisando programas que acabaram de passar. Vocês se esqueceram de renovar o contrato da Leda de novo? Acho que uma TV feita com dinheiro público deveria respeitar o público. Vou procurar formas legais de reclamar sobre isso, no Ministério Público. Não é possível que o que vocês fazem com o dinheiro público fique assim. Estou irritada com esta palhaçada!"
POR TELEFONE
O Sr. Geraldo Miguel, de Ceilândia/DF, nos ligou para reclamar dizendo que a programação está diferente, só tocando música. Ele queria saber o motivo de não estar passando o programa Revista Brasil. O Sr. Francisco, de Cidade Ocidental/GO, também ligou para reclamar que hoje não passou o jornal local e nem o Revista Brasil. Márcio Soares, de Ji-Paraná/RO, diz que está sentindo falta dos Jornais da manhã e do meio dia.
A GREVE E A LAMA
A telespectadora Rita Colaço manda um recado e faz uma crítica colaborativa: “Sei que a TV Brasil está com os seus jornalistas em greve e parabenizo a galera que está segurando as pontas diariamente, mantendo os dois telejornais no ar – um cumprimento especial para Katiuscia, que tem até feito externas. Mas acho que a emissora está devendo ao seu público duas coisas: 1) noticiar a greve; 2) realizar uma cobertura com mais profundidade sobre a extensão dos danos em Mariana, MG, e a quase inércia da Samarco. O papel de uma televisão pública é precisamente zelar pelos interesses do público no que toca à informação.”
ENTÃO TÁ...
Sou ouvinte da rádio Nacional AM Brasília desde menino. Tenho acompanhado a programação nesses últimos dias e tenho ouvido o comunicado de que a programação está alterada em virtude da paralisação de parte da equipe de funcionários da emissora. Tenho a dizer que a essa programação fora da rotina habitual está excelente! Muitas músicas e músicas de qualidade. Entendo que a programação da Radio Nacional AM Brasília é voltada para informação, serviços e utilidade pública, além, é claro da programação musical seleta. No entanto, esse formato fora do padrão habitual está agradando bastante. Tenho outros amigos que ouvem a Rádio Nacional AM Brasília e que compactuam com a minha opinião. Desta maneira, fica a sugestão para que a direção da emissora possa considerar a possibilidade de revisar a programação, valorizando um pouco mais o segmento musical".
Até a próxima!
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