“Conversa com Roseann Kennedy” recebe Paulo Salles, um dos organizadores do Fórum Mundial da Água

Publicado em 23/02/2018 - 16:07

Neto de Cora Coralina,  Paulo Salles, fala do legado da avó 

“É uma boa combinação falar sobre água e sobre Cora Coralina”, afirma logo no início da conversa o biólogo Paulo Salles, neto da poetisa da Cidade de Goiás que fazia doces e falava das coisas simples da vida, com uma visão além de seu tempo, inclusive,  na preocupação com o meio ambiente.

Especialista em ecologia e em recursos hídricos, o professor aposentado da Universidade de Brasília é um dos treze netos de Cora Coralina, o único que chegou a morar com a avó. Como diretor da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa), Paulo Salles faz parte da organização do oitavo Fórum Mundial da Água, que vai ser realizado em Brasília, de 19 a 23 de março.   

O Brasil é o primeiro país do hemisfério Sul a receber o Fórum, que é o maior evento do mundo voltado para o debate das questões relativas à água. A oitava edição tem como tema “compartilhando água”. A expressão, explica Paulo Salles, tem vários significados,  como o compartilhamento físico dos rios e nascentes por diferentes municípios, estados e países; a divisão da responsabilidade na gestão dos recursos hídricos e a distribuição dos seus benefícios. “Todos os que bebem água são responsáveis pela água”, assim como todos os setores da sociedade têm direito a ela, enfatiza Salles, citando a legislação brasileira. 

“O Fórum não é um evento de governo, assim como também não é da sociedade civil. Ele tem todos esses elementos e a água é vista praticamente de todos os aspectos”, afirma o diretor-presidente da Adasa. Segundo Salles, um dos principais cuidados da organização do evento é garantir “a inclusão de todas as vozes que de alguma forma estão relacionadas com o uso da água e que terão seu espaço para apresentar problemas e aprender soluções”. 

Muito antes que a preservação ambiental entrasse para a agenda pública, Cora Coralina já mostrava consciência sobre os cuidados com a natureza. Paulo Salles cita um artigo escrito pela avó em 1922 em que ela alertava para os riscos do desmatamento provocado pelo progresso. A poetisa defendia o replantio de mudas como forma de prevenir a falta de água no futuro.   

Sobre a convivência com Cora, afirma que “ela sempre foi uma pessoa muito otimista em relação ao futuro. Não tolerava, por exemplo, que as pessoas pensassem que o passado era melhor que os tempos presentes.”   

Salles confessa que só entendeu a importância da avó como poeta na época de estudante universitário.  “Eu comecei a ver Cora Coralina não mais como aquela minha avó, mas como uma pessoa pública, uma pessoa muito especial, uma pessoa que despertava nas outras pessoas um grande interesse”. Uma das suas lembranças é de ver as portas do casarão da Cidade de Goiás sempre abertas. “Eu tive a oportunidade de presenciar muitos encontros dela com pessoas que vinham visitá-la.  Sistematicamente as pessoas saíam emocionadas da conversa que tinham com Cora Coralina”, conta.  Esse e outros aspectos da vida da poetisa são contados no filme Cora Coralina – todas as vidas, do cineasta Renato Barbiere, que estreou nos cinemas em dezembro do ano passado. Salles é um dos entrevistados. 

Para ele, a obra de Cora fez tanto sucesso porque “mostrou o valor das coisas muito simples”, sendo aceita e entendida pelas pessoas.   “Não era à toa que ela dizia 'na minha vida eu removi pedras e plantei flores'. Ou seja, quando as pedras aparecem você consegue fazer alguma coisa também”, destaca.

Serviço:
Conversa com Roseann Kennedy 
Data: 26/02
Horário: 21h15

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